O livro "Surpreendido pela Alegria" é uma espécie de auto biografia de C. S. Lewis.
Um livro muito bom para quem admira os pensamentos de Lewis e pra quem gosta de ir fundo em seus próprios pensamentos.
Com a morte de sua mãe, com um pai frio, preso na penumbra de um internato inglês, Lewis teve uma infância de certo aspecto, conturbada. Diante do peso dos conflitos que levariam à I Guerra Mundial, evaporou-se repentinamente a sua fé no cristianismo e mais tarde no próprio Deus.
Quando criança ele sentira uma Alegria inocente e espontânea, que o fez, desde então, entrar numa procura pela fonte desta Alegria, que ele não conseguira manter. Almejava o momento mágico de epifania que daria sentido à vida. No livro ele relata sua jornada árdua de ateísmo de volta ao pleno cristianismo.
Particularmente achei o livro muito bom, mesmo antes de ler, já me simpatizava com a maneira de pensar do autor, mesmo não tendo lido nada dele ainda já imaginava que seria assim. Também achei a leitura muito difícil, tive que fazer um esforço extra para termina-lo.
Mas o motivo principal desta postagem é citar e comentar as partes que achei mais interessante de sua conversão, ou seja, partes que estão nos dois últimos capítulos.
Bom o primeiro pensamento que achei fascinante e que também já compartilhava com uma perspectiva diferente, é que mesmo antes de Lewis passar de ateu para teísta, começou a notar a diferença entre as literaturas que lia, dos que acreditavam em Deus e dos que não acreditavam, ele começou a notar que se agradava mais dos autores teístas. E uma crítica de Lewis deve ser levada a sério, com toda certeza, ele sempre foi um exímio leitor, se tem uma coisa que ele entende muito, é isso.
"... Na verdade, eu deveria estar totalmente cego para não enxergar, bem antes, a ridícula contradição entre minha filosofia de vida e minhas experiências reais como leitor. George MacDonald fizera mais por mim que qualquer outro escritor; logicamente, era uma pena ter ele aquela obsessão com o cristianismo. Ele era bom apesar disso.
Chesterton era mais sensato que todos os outros modernos juntos; salvo, é claro, seu cristianismo. Johnson era um dos poucos autores em quem eu sentia poder confiar totalmente; muito curiosamente, ele tinha a mesma esquisitice. Spenser e Milton, por uma estranha coincidência, tinha o mesmo defeito. Mesmo entre os autores antigos, o mesmo paradoxo era encontrado. Os mais religiosos (Platão, Ésquilo, Virgílio) eram nitidamente aqueles dos quais eu podia realmente beber. Por outro lado, os escritores que não sofriam de religião, e com quem teoricamente minha simpatia deveria ter sido completa - Shaw, Wells, Mill, Gibbon e Voltaire -, todos pareciam um tanto fracos; gente que na meninice chamávamos "fracotes". Não que eu não gostasse deles. Todos eram (especialmente Gibbon) ótimo passatempo; mas dificilmente mais que isso. Parecia não terem profundidade. Eram simples demais. A dureza e a densidade da vida não apareciam nos seus livros.
...a maioria dos autores que se podiam considerar precursores do moderno iluminismo parecia-me café pequeno, e me entediavam terrivelmente. Achava Bacon (para ser franco) um burro solene e pretensioso, bocejava diante da comédia da Restauração, e, tendo corajosamente navegado até a última linha de Don Juan, escrevi “Nunca mais" na última folha. Os únicos não cristãos que me pareciam realmente saber alguma coisa eram românticos; e boa parte deles estava perigosamente tingida de algo semelhante à religião, às vezes até ao cristianismo”.
Como eu tinha dito antes; eu também já compartilhava este pensamento, só que na arte em geral. Simplesmente creio que pessoas que estão ligadas em Deus, usufruem de uma intimidade com o Criador que lhes proporcionam uma melhor compreensão do universo. Na maioria, são pessoas que conhecem a Verdade o Caminho e a Vida que é Cristo. Como Lewis fez questão de ressaltar que não excluía a boa qualidade dos demais, também o faço, quem sou eu pra dizer que não existem boas obras seculares, seria ignorância falar isso, mas faço das palavras de Lewis as minhas:
Não que eu não gostasse deles. Todos eram ótimo passatempo; mas dificilmente mais que isso. Parecia não terem profundidade. Eram simples demais. A dureza e a densidade da vida não apareciam nas suas obras, ...e boa parte deles estava perigosamente tingida de algo semelhante à religião, às vezes até ao cristianismo.
Meu entendimento de arte é curto, (mas sei aprecia-la) mas se quiser entender mais sobre fé e arte, procure saber das obras de Hans Rookmaarker (A Arte não Precisa de Justificativa)